Wednesday, November 22, 2006

Entrevista Leonel Leal






Leonel Leal, natural da Vieira de Leiria e de 48 anos, é o actual treinador da nossa equipa sénior. Depois de um bem sucedido percurso a treinar escalões jovens no Grupo Desportivo da Praia da Vieira, Industrial Desportivo Vieirense e no Sport Lisboa e Marinha, aceitou o convite da direcção do CRC 22 de Junho/Amor para treinar a equipa sénior.
P. - Depois de tantos anos a trabalhar com equipas de formação, o que te levou a aceitar o convite da direcção para treinares a equipa sénior?
R. - Após 17 anos a treinar os escalões de formação, tendo somente como interregno a época de 2003/2004, achei o convite aliciante, na perspectiva que a nova experiência me iria enriquecer com o colher de novos ensinamentos. A partir deste novo trabalho, ambicioso como sou, tentar ir o mais longe possível no escalão Sénior.
P. - Quais foram as maiores diferenças que encontraste?
R. - A grande diferença está nos vícios normalmente já entranhados no sénior. Alguns sem escola e sem apetência para corrigir os erros, pensando que já nada tem a aprender. Na formação o jovem tem uma vontade enorme de corrigir os erros e de aprender, tentando ser tecnicamente e tacticamente disciplinados, sendo o seu sentido de autocrítica muito mais acentuado que o sénior, a razão principal da sua evolução.
P. - É notório que existem muitos poucos jovens da região a actuar na Superliga. Tu que trabalhaste muitos anos em equipas de formação, na tua opinião o que é que falta aos jovens da nossa região, para que, quando seniores se consigam impor em equipas da Superliga?
R. - É somente uma questão de aposta e de oportunidade. Verificamos que muitas vezes os jogadores vindos da formação se impõem na equipa principal, quando têm à sua frente treinadores que não temem (bem pelo contrário) meter os miúdos, em vez de irem buscar alguns estrangeiros de valor discutível. Quando a oportunidade lhes for dada, como foi o caso do João Paulo e do Laranjeiro por exemplo, eles aparecerão. Sou questionado, pelos muitos anos de trabalho no Sport Lisboa e Marinha muita vez com esta pergunta, ao que tenho respondido, que este clube tem dezenas de jogadores na 3ª e 2ª Divisão. Se o clube formador (Lisboa e Marinha), tivesse nas condições que está o União de Leiria, com certeza que não só teríamos os 2 jogadores atrás descritos, como mais alguns a fazer companhia a estes na Super Liga. O sustentar desta minha opinião, é que quando jogávamos com o Benfica e Sporting por exemplo, a diferença de valores não era muita e em algumas vezes tínhamos resultados positivos (vitórias e empates). Só que os jogadores daquelas equipas tiveram a oportunidade de serem lançadosna 1ª ou 2ª Liga, pela força do nome dos seus clubes.
P. - Concordas com a opinião de muitos técnicos quando afirmam que nas camadas jovens há mais empenho dos atletas, que chegados a seniores, e sem grandes perspectivas para a carreira, se baldam mais?
R. - Conforme se afirma, quando não há perspectivas e ambição, naturalmente não há futuro. Nesta situação há o trabalho do treinador, para tornar o atleta mais ambicioso e para que desta ambição tenha melhores resultados e não aceitar jogadores que se baldam, dando a entender que na vida para se atingir objectivos é preciso disciplina e trabalho, não aceitando outra forma de estar. Naturalmente na idade de formação, quase todos os jovens, sonham um dia virem a ser jogadores de futebol, o que leva a uma autodisciplina de trabalho mais rigorosa.
P. - Numa altura em que o C.R.C 22 de Junho/Amor já defrontou todas as equipas, quais é as que consideras com mais hipóteses de subirem de divisão?
R. - Marrazes e Meirinhas pela qualidade e quantidade dos seus planteis. São equipas que têm no seu plantel, jogadores já com tarimba de outros campeonatos acima do que estão a disputar, o que lhes dá uma grande autoconfiança de vitória, o que não acontece nas outras equipas. Também pela mesma razão (quantidade e qualidade), embora já a alguns pontos de atraso, mas com o calendário favorável, não me admiraria o aparecimento do Santo Amaro na disputa do título.
P. - Consideras que a diferença de valor dessas equipas para a nossa é assim tão grande como a diferença pontual parece mostrar?
R. - Não. Justifico o meu não pelos resultados, que tivemos com as três equipas, que eu considero as principais na luta pelo título. Perdemos os dois jogos com as Meirinhas por um golo, em jogos muito equilibrados. Também por uma bola e também sem nenhuma felicidade, perdemos os jogos com o Marrazes e Santo Amaro. Lembro que no jogo com o Marrazes a cerca de vinte minutos do fim, estávamos a ganhar por um a zero, quando de uma maneira ingénua um jogador nosso foi expulso. No jogo em Ortigosa, deixo as palavras de alguns jogadores adversários, quando dizem que ganhou a equipa mais feliz.
P. - O que é que nos falta, para podermos ombrear com essas equipas para os lugares cimeiros?
R. - Num plantel maioritariamente jovem é notório em alguns jogos a falta de maturidade e de liderança dentro do campo. Precisávamos de mais dois ou três bons jogadores, para lugares onde a equipa se encontra debilitada pois temos um plantel bastante curto. O mais importante para a disputa dos lugares cimeiros é a cultura de vitória, que na maioria dos nossos jogadores não tem e em alguns jogos isso é notório.
P. - A nossa equipa começou bastante mal o campeonato. Falou-se muito que os jogadores vinham em muito má forma das férias, achas que foi só esse o motivo de tão mau começo?
R. - Não considero que a equipa começasse assim tão mal o campeonato. Penso que tivemos um mau jogo no nosso campo com o Pilado, no resto tivemos foi sim um calendário que inicialmente não nos foi favorável. Agora, tivemos foi um início de pré-época mau, pela razão de alguns jogadores apresentarem-se com muitos quilos a mais. Houve também a desconfiança de alguns jogadores, num treinador que não conheciam e com uma metodologia de trabalho completamente diferente ao que estavam habituados. É também de realçar, apesar de todo o apoio recebido do Valério e do Beto, que o treinador, tirando os jogadores que levou, não conhecia a qualidade do plantel. Neste momento, não tenho duvida nenhuma, que existe uma confiança e respeito recíproco, no seio da equipa, apesar de saber que é impossível agradar a todos.
P. - A equipa de Amor nos últimos anos ganhou a fama de uma equipa indisciplinada. Concordas com essa análise?
R. - Não, de maneira nenhuma. A prova da minha afirmação é que andámos quase toda a primeira volta só com um vermelho (acumulação de amarelos). Mas também penso, que temos de melhorar alguns comportamentos completamente desnecessários, como por exemplo, falar ou discutir com os árbitros, o que tem levado a sermos amarelados.
P. - O actual plantel do C.R.C.22 de Junho/Amor é bastante jovem e com grande margem de progressão. Acreditas que dentro do plantel, existam jogadores com hipóteses de vir a dar o salto para equipas de outra dimensão?
R. - A maioria dos jogadores tem valor para disputar a Divisão de Honra Distrital, mas penso que dentro do plantel existem 2 ou 3 jogadores, que se levarem o trabalho com disciplina e ambição e com muito sentido de autocrítica, poderão atingir outros patamares, podendo ser mais tarde recompensados pelo trabalho rigoroso agora feito. Tudo depende deles.
P. - Uma velha questão que se levanta é a da falta de qualidade das arbitragens. Por um lado, árbitros jovens, com pouca experiência, e por outro, árbitros já com bastante idade e sem ambição. Pela tua experiência, partilhas da opinião que o nível das arbitragens está cada vez está pior?
R. - Desconheço o nível da arbitragem no passado, por isso não posso comentar. Relativamente ao presente, alguns árbitros já de idade são medíocres, a razão de não terem passado dos Distritais, com a agravante da falta de estímulo e do deixa andar. Relativamente aos jovens árbitros, encontram-se alguns com bom futuro, visto serem rigorosos na componente técnica e disciplinar. Aproveito para chamar a atenção, que muitas vezes os jogos são complicados para os árbitros, por causa do comportamento indisciplinado dos jogadores, treinadores e directores que tornam os jogos em péssimos espectáculos.
P. - O que pensas das condições que o C.R.C.22 Junho/Amor oferece aos jogadores e treinadores? O que pode melhorar?
R. - Condições humanas excepcionais - dificilmente haverá melhor. Infra-estruturas desportivas muito fracas, principalmente no que diz respeito a balneáreis e posto médico. Urgente melhorar.
P. - Qual é a tua opinião acerca do site do C.R.C 22 de Junho/Amor, e o que é que gostavas de lá ver que não está lá?
R. - Só pela existência de um site, aonde um sócio ou amigo do clube pode dizer algo que lhe vai na alma, já por si, é muito positivo e por isso, os meus sinceros parabéns pela ideia e execução do site. Penso que o site se tornaria ainda mais interessante se nele viesse semanalmente entrevistas com jogadores; directores; sócios ou simples amigos a falar de algo relacionado com a experiência da vida deles no clube (o que pensam; o que gostariam que se fizesse, etc.), para haver um maior envolvimento de todos com o clube e com isso, o poder surgir novas ideias.

Data entrevista: 16/02/2005