Tuesday, November 21, 2006

Entrevista Daniel Almeida


Daniel Jorge Almeida, natural de Amor e de 46 anos é o actual presidente do Centro Recreativo e Cultural 22 de Junho/Amor. Foi um dos sócios fundadores deste clube e já fez um pouco de tudo neste clube, desde jogador, treinador, dirigente... Num ano em que o clube completa 30 anos, achamos oportuno ouvir as suas ideias.
P. - Foste um dos sócios fundadores do nosso clube. Na altura viviam-se tempos bastante conturbados, que recordações têm desse tempo?
R. - Era dos mais novos que acompanhavam de perto os homens que tinham a esperança de erguer uma Colectividade que estivesse ao serviço da população fica na memória a coragem e determinação, como enfrentaram todo o poder instalado. Infelizmente alguns já não estão no nosso mundo.
P. - Um dos momentos mais marcantes da nossa história, foi sem dúvida o episódio quando foram queimadas as motas na sede velha. Esta é uma história que ainda hoje tem várias versões. Para os mais novos, que nada conhecem desta história, como a descreverias?
R. - Talvez descrevesse como “ a noite mais longa vivida em Amor”, ainda hoje este tema incomoda algumas pessoas, vou tentar abreviar. Esta história tem início antes do 25 de Abril de 1974. Já no tempo do antigo regime existiu um “Clube Desportivo Recreativo de Amor”que tinha uma equipa de futebol e participou na antiga FNAT. Algumas das taças que lá existiam e um emblema em pedra estão hoje na vitrina do Centro Recreativo e Cultural 22 Junho – Amor.Alguns Directores chegaram a ser presos pela PIDE acusados de comunistas. A sua Sede era onde hoje está erguido o Salão Paroquial.Após a revolução de Abril, em todas as terras se começou a criar Associações, Amor não fugiu à regra. Logo, se sentiu que não seria fácil. Organizou-se, uma equipa de futebol, e deu-se início em casa Pedro Inês hoje Sócio nº 1, o ensaio de uma peça de teatro, que foi apresentado no largo da igreja no dia 22 de Junho de 1975 numa festa então designada “festa da Juventude” que teve o apoio da Base Aérea nº5 com a dispensa de tendas.Mas, cada dia que passava a oposição ia crescendo, desde o boicote feito pelos jovens aos filmes, que eram exibidos todos os domingos à noite no Salão Paroquial, às agressões físicas no interior do mesmo Salão, na célebre reunião com a comissão da igreja então composta por elementos de toda a Freguesia.Pouco, tempo depois alugou-se o barracão da antiga Sede, foi feita uma comissão para elaborar os estatutos e agendou-se uma assembleia-geral para eleger corpos gerentes.O ambiente era tenso, até que no “Verão quente” um domingo dia 27 de Julho de 1975 a placa do arraial que tem o nome “Largo Padre Margalhau” foi mudada para largo “22 de Junho”, enquanto a equipa de futebol foi jogar a Chãs a mesma placa foi colocada na posição inicial. O sino, tocou a rebate as pessoas correram para o arraial com baldes de água na mão a pensarem que era fogo, logo eram informadas que “os comunista de Amor queriam assaltar o Salão Paroquial”. Veio, gente de todos os lugares da Freguesia.Com o regresso das pessoas, que vinham da praia que também paravam estimou-se que eram cerca de 1500 pessoas em frente à sede velha. Solicitou-se a GNR e a tropa da Base Aérea nº 5, que se posicionaram em frente ao portão, do lado de fora a impedir o acesso, já que nós lá dentro éramos cerca de 25 pessoas homens mulheres e crianças. Ao anoitecer, o ataque deu-se, a GNR e Tropa foram agredidos, a população forçou o portão, e foi destruir tudo o que estava à frente, a primeira coisa foi as motos eram 5 ou 6, e uma bicicleta, atearam o fogo, a nossa sorte é que foi debaixo das linhas da EDP falhou a luz, logo pensaram que fomos nós que a desligamos, por estarmos armados, muita gente recuou, enquanto isso fugimos pelas janelas traseiras, altas e pequenas, primeiro as mulheres e crianças só depois os homens. O que mais me impressionou foi ver pais contra filhos. Corriam atrás de nós com forquilhas e foices roçadoras e caçadeiras por entre casas e pinhal o meu grupo só parou Monte Real. Foram momentos de guerra e de horror que não mais esqueço.
P. - Depois de alguns anos conturbados, as coisas começaram a acalmar, e o clube começou a crescer, e o resultado foi a nossa nova sede. A nova sede foi de facto um grande projecto?
R. -Na altura foi de facto um grande projecto e uma enorme aventura. Havia muita gente da nossa terra que se recusava a entrar no recinto da “Sede velha” (as motas queimadas em exposição à entrada) era uma imagem que muitos não queriam ver, por outro lado era importante criar infra estruturas para desenvolver as actividades que existiam (Teatro; Atletismo; 2 equipas de futebol; Karaté e Andebol).
P. - Com a nova sede, surgiram novas receitas, e o clube começou a apostar forte no futebol. Achas que foi um erro o caminho que o futebol levou?
R. - Se nos reportarmos à época, foi um mal necessário, assumido na altura para a construção da nova Sede, para envolver a população era necessário a equipa de futebol ter resultados, gerou-se uma onda de apoio à sua volta que por sua vez se estendeu à construção da Sede que foi erguida em tempo recorde.
P. - Aquele ano em que não tivemos futebol, terá sido importante para se repensarem estratégias?
R. - Foi o fim de um ciclo. Era importante, parar e recomeçar tudo de novo com novas ideias e outras pessoas.
P. - O clube andou alguns anos á deriva, com sucessivas comissões de gestão. Nos últimos anos, o clube parece ter encontrado finalmente o rumo. Acreditas que é para continuar?
R. - Acredito e tenho esperança que sim, mas temos que melhorar. Numa colectividade é importante a estabilidade, os Sócios têm responsabilidades e o dever de participar, não podem ficar indiferentes, temos que dar a cara temos que ter a consciência que não podem ser sempre os mesmos. Nesta, sociedade que vivemos em que o tempo passa de pressa é necessário arranjar um espaço para o associativismo.
P. - Quais são as principais fontes de receita do clube?
R. - As receitas neste momento são das quotas dos Sócios e do Bar da Colectividade. O que é urgente alterar o Clube tem que gerar receitas, para isso é necessário investir para criar condições. O lugar de Amor é pequeno, uma parte da população vive da pequena agricultura do campo do Lis, outros trabalham em Leiria e Marinha Grande apenas vêm dormir, não há comércio nem indústria com os acessos que existem não é possível investimento. O PDM é outro problema que tem que ser revisto, os jovens são obrigados a ir viver para outras localidades.
P. - E que apoios existem?
R. - A instituição neste momento não tem apoios, existem alguns concursos que podemos candidatar, mas para isso é necessário a estabilidade que eu referi. O futebol vive de donativos de empresas que oferecem para esse fim, dentro elas à que realçar a “Sondalis “e “Sãooptica” e da Câmara Municipal ao abrigo do PAAD.
P. - Quantos associados tem o clube, qual a quota que pagam, e que regalias têm?
R. - O clube tem 692, sócios inscritos os que pagam quotas regularmente são cerca de 180. A quota anual é de 10 €. È nossa intenção também actualizar o ficheiro de sócios.
As regalias que auferem, são as designadas nos estatutos ou seja, desconto em todos os espectáculos realizados nas instalações do Centro, e estamos a oferecer a entrada gratuita no futebol aos sócios com as quotas regularizadas.
P. - Tendo o futebol uma grande importância no C.R.C.22 de Junho/Amor, porque é que ao longo da sua história, tão poucas vezes, existiram equipas de futebol de formação?
R. - Uma das razões porque terminou a formação foi a falta de apoio dos próprios pais. A família tem um papel determinante na formação não pode “descarregar” os seus filhos e muitas vezes irem passear, devem acompanhar e participar. Os directores não podem fazer tudo. O futebol de formação, é uma área que eu particularmente muito aprecio e acho que é o futuro das pequenas colectividades como a nossa. Esta direcção dá todo o apoio que estiver ao seu alcance para este projecto.
P. - Quais são os principais objectivos da actual direcção?
R. - Os principais objectivos são restituir a credibilidade deste Clube assumindo todos os compromissos. Temos, intenção de informatizar e organizar toda a estrutura.Acreditamos, que é possível concluir o Salão no 1º andar com tecto falso, isolamento, pintura e as respectivas escadas a com a finalidade de criar condições para começar a rentabilizar o espaço e a obra. Estamos a desenvolver esforços para a inauguração ser no 30º Aniversário.
P. - O que é que tem previsto para comemorar o 30ºAniversário do clube?
R. - Está previsto fazer uma festa em família e distinguir todos os sócios entre os 25 e 30 anos com as quotas actualizadas.
P. - A construção de um polidesportivo ao ar livre é uma velha aspiração do clube. Achas que a breve prazo será possível avançar para isso?
R. - Temos que avançar, estamos a perder tempo que é precioso. Com a boa vontade da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal em colaborar na alteração do PDM junto ás nossas instalações é possível sonhar.
P. - Durante anos existiu uma grande rivalidade entre os clubes da freguesia, que acabava por ser prejudicial para todos. Hoje, felizmente, vive-se uma relação de menos rivalidade e mais cooperação. É este o caminho que defendes?
R. - No passado, a vida das colectividades eram vividas mais intensamente o que levava muitas vezes a grandes discussões era o futebol. Eu sou a favor das boas relações entre as instituições, ainda hoje há pouco diálogo entre as colectividades da freguesia, no fundo todos estamos a trabalhar em prol da comunidade.
P. - Já muitas vezes se falou na possibilidade de os 4 clubes da freguesia, formarem uma só equipa de futebol. Qual é a tua opinião?
R. - Não vejo qual problema, antes pelo contrário, defendo que deve existir uma equipa de cada escalão a nível de freguesia, jogando e treinando um ano em cada campo, com as pessoas de cada lugar envolvidas, coordenadas por uma comissão de todos os lugares com o apoio da Junta de Freguesia. Eu próprio, há cerca de 4 anos contactei algumas pessoas dos diversos lugares, desloquei-me à Junta de Freguesia e expus este plano a resposta foi negativa e não tive coragem de continuar, mas faço votos para que seja uma realidade dentro de pouco tempo.
P. - Que balanço fazes do actual momento da equipa de futebol?
R. - O balanço é positivo, no futebol existem coisas mais importante que o resultado ao domingo, sabe bem ganhar, mas é bom ter um grupo unido, que tem prazer em jogar a bola, e praticar desporto pelo desporto. Quero, aproveitar esta oportunidade para agradecer ao treinador Sr. Leonel o bom trabalho que fez neste clube, espero que volte, estes miúdos precisam dele, foi uma pena interromper, uma equipa não se faz num ano leva tempo, o trabalho agora iniciado vai dar frutos mais tarde.
P. - Todos os anos desistem muitas equipas de futebol, devido ás enormes despesas e trabalho que este dá. Qual é que achas que é o futuro do futebol neste clube?
R. - O futuro do futebol federado neste e em muitos clubes pequenos, caminha para o fim está a ficar insuportável. Não é possível pagar 160€ de inscrição por cada atleta, a taxa de jogo 127€ e ainda o policiamento cerca 85€ mais transporte, ou seja cada jogo em casa fica em cerca de 230€.Temos ainda água luz equipamentos etc. Aonde vai para este futebol amador?
P. - Comparando com o tempo em que eras jogador, é notório que hoje em dia, vem muito menos pessoas ver os jogos. Achas que é porquê?
R. - No, meu ponto de vista existem vários factores, nos anos 70 e 80 a maioria das Colectividades estavam no inicio era tudo novidade, o facto das pessoas hoje se deslocar mais fácil, as más condições dos campos, a qualidade do espectáculo, o próprio clima que se gerou à volta do futebol etc. Cabe-nos a nós alterar e inverter esta situação o futebol sem público perde a beleza.
P. - Olhando para trás, para estes 30 anos, eras capaz de escolher os melhores e os piores momentos deste clube?
R. - Todos, os clubes têm momentos bons e menos bons os Centro Recreativo e Cultural 22 de Junho não foge à regra a aquisição do terreno onde hoje temos as nossas instalações foi sem dúvida o momento mais marcante, devido ao ambiente que se vivia em Amor quando foi tomada esta decisão foi preciso muita coragem das pessoas envolvidas, em termos desportivos foi a subida à 1ª Divisão Distrital em 1982 e vencer a Taça Distrital em 1987. O pior, momento foi no último jogo na 3ª Divisão Nacional em 1989 no regresso de Alcobaça, o acidente de viação com a carrinha do Clube onde resultou o falecimento do nosso Presidente Ismael Beato.
P. - Como vês o clube daqui a 30 anos?
R. - Espero ver um Clube dinâmico com bastante energia e que os nossos filhos tenham orgulho e colhem os frutos das árvores agora plantadas.
P. - O que é que achas do site e o que é que pensas que poderia ser melhorado?
R. - O site está óptimo, é importante divulgar e dar a o Centro Recreativo e Cultural 22 de Junho – Amor, quero agradecer em nome da Direcção todo o trabalho desenvolvido e o apoio que tem prestado.
Data entrevista: 02/04/2005